segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sobre escrever certo em linhas curtas.

Minhas primeiras lembranças sobre viagens de ônibus datam de uns 10 anos atrás. Não me refiro aos ônibus escolares e a corja de pirralhos que promovia fanfarras mil nas excursões tão indispensáveis na formação de qualquer garoto.

Lembro-me de pegar ônibus para ir ao inglês, para ir ao shopping ou para ir até a casa de um amigo que morava na frente de um ponto de ônibus. Para mim, só existiam duas linhas: uma que ia à Faria Lima e outra que ia até o fim do mundo – mas o máximo que eu atingia era a Rua da Consolação. As outras linhas eram selvagens demais e os nomes estampados na frente dos veículos continuam sendo lugares místicos inventados por um redator da prefeitura, ou da CET (quem decide que um bairro irá chamar Jardim Colombo? Essas teorias hão de merecer um texto próprio no futuro).

O fato é que, selvagem ou não, os coletivos sempre foram um lugar para a leitura. Quem gostava de ler não tinha medo de solavancos, curvas fechadas, excesso de passageiros e nem mesmo de pessoas obesas que insistem dividir o acento. Dentro do ônibus lembro de muitos leitores de jornal e também de muitos afanadores de caderno que, com um jeito maroto, pediam para ler tal seção do colega pagante pelo diário.

Os tempos foram passando e os leitores foram desaparecendo. Há várias explicações possíveis para tal acontecimento: os leitores enriqueceram e hoje só usam carros é a menos provável delas. Acredito que os leitores não são tão apegados ao jornal tradicional, talvez por falta de tempo para ler aquelas reportagens enormes sobre o corte da Selic, talvez pela falta de conhecimento de mercado que os jornais apresentam até hoje. A crise dos jornais está aí. Muitos foram comprados, outros começaram a vender fofocas e outros a criá-las.

Hoje em dia é muito mais comum ver o povo lendo os tablóides modernos que lhes são distribuídos gratuitamente nos principais pontos de embarque da malha dos transportes públicos de São Paulo: estações de metro e de trem, terminais de ônibus e corredores importantes. Como uma blitz, os jornais que não chegam a ter umas 20 páginas são depositados nas mãos de quem estiver por perto. O conteúdo deles não é, digamos, abrangente. É incrível, passa-se um apanhado de notícias em poucas e pequenas páginas com fotos grandes. De política a esportes, os tablóides impressionam na sua fama ascendente, na brevidade ao tratar de temas que merecem devem ser aprofundados para sua (total) compreensão e na falta de credibilidade. Não estou dizendo que os novos jornais de rua são populistas, apenas são rasos.

Ser raso pode até ser o que os editores dessas novas publicações tenham como intenção. Falar pouco, por falta de tempo, mas falar de tudo, para atender a demanda diária de informações é o que eles querem (?), depois quem se interessou por uma notícia em especial que procure saber mais sobre ela. A teoria é bacana, mas fico em dúvida: isso é bom ou ruim? Vale informar uma pessoa com um hiper-condensado de notícias? Vale ser profundo e continuar no formato usual de jornais grandes dobrados sob nossas axilas?

Em alguns meses convivendo com os mini-jornais pude perceber o quão disponíveis eles são para a publicidade em geral. Conclui-se que o que é cobrado por eles deve ser realmente mais barato que a sua concorrência de produto – o jornal tradicional -, afinal muitos anunciantes de pequeno e médio porte conseguem anúncios consideravelmente significantes se comparados ao tamanho da publicação, a verba desses anunciantes e ao publico atingido.

O que me atormenta é a volatilidade dessa verba publicitária em tempos de eleições, por exemplo. Sem outdoors e com as panfletagens a vista da lei, os políticos tendem a focar suas verbas (nem sempre curtas) em propaganda para mídias antes nunca exploradas, como os tablóides. Minhas manhãs serão piores quando eu tiver o desprazer de folhar um tablóide recheado de caras, números e cores primárias de partidos que me dão náusea. Ainda tenho imaginação para relacionar um editorial fraco com verbas partidárias fortes, o que não só sujaria o espaço dos anúncios como também poderia micar as curtas linhas de notícias que esses tablóides oferecem de graça a sociedade da pressa.

Voltando ao fato da cobertura, é parte da teoria da comunicação que nunca se pode retransmitir um fato em sua total veracidade. Isso pode ser um argumento em defesa de qualquer publisher, mas requer atenção. Muitos jornais tiveram que dar o braço a torcer e encurtaram a carga intelectual de suas noticias e virou mais “povão”, ou seja, dar ao povo o que ele quer sem exigir muito raciocínio. Ao fazer isso, um jornal está assinando sua carta de suicídio, sua credibilidade jamais voltará a ser a mesma.

Também, deve-se ser flexível ao aportar a tradição sem ser chato. Os jornais de formatos clássicos estão em derrocada. Temo pelo seu grande patrimônio: os editoriais. A diferença de um jornal grande é seu editorial; por trás de um jornal grande está uma fundação, um conjunto de pessoas que zela pelo seu conteúdo impresso e preza pelo consumidor que paga por aquilo que acha que lhe é relevante. Panfletar um jornal novo, sem muita credibilidade e com um formato que nunca fez por merecer esse adjetivo é uma mecânica boa para informar ou manipular.

Se o foda do jornal ser grande é que ninguém terá tempo para ler tudo, reduzir o tamanho das notícias é uma saída tola, um erro grave.

Respeitar a inteligência da população é mais valioso que educá-la a ler em dois parágrafos o que necessita de 4 colunas para ser explicado. Tentar concentrar todas as notícias de uma vez só, é o mesmo que matar mosca a tiro de espingarda.

2 comentários:

Anônimo disse...

Voce é Moderninho!!

Renata Asato disse...

Oi Rê, gostei do seu texto, redator!
Eu até gosto desses jornais expressos, de metrô.
Além de ser grátis, é um jeito do povo se informar, msm que mal. Tempo é um problema nos dias de hoje, infelizmente... e a tendência é piorar.
Beijos, rapaz!

 
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