segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Drible da vaca

Drible da vaca é assim: bola de um lado, zagueiro cara de boi no meio, e atacante voador do outro. Tocou, passou; quem resolveu ficar olhando viu navios.

De Brasil esse drible tem parentesco adotivo. Sábios são os corajosos toureiros espanhóis que trocam a bola pelo pano e o vôo pela altivez de ver o boi chifrudo passar lotado, rumo ao delírio da platéia.

Zagueiro que zanga, faz falta. Dá empurrão, deixa a perna. Toma amarelo e fica tudo em casa. Se bobear de cair na área, o drible fica mais salgado para o cara de boi engolir, olé!

Agora vá me cair numa das zanganças do chifrudo! Esse aí não perdoa e finca ódio. Toureiro toureado fica pior que zagueiro vazado, a estrela perde o brio e o boi chifrudo saí vencedor sem vencer, fica querido sem querer. Na tourada, o touro bate penalti.

*

Menina, se pensas que és muralha, um drible da vaca lhe dou. Sou flecha de ventos, minhas pernas são de grilo e meu corpo baila suave como o peixe.

Chifrudo, se queres meu fim, que venha com graça, pois se pensas em atropelar razão e sentimento vai ser pano na cabeça. De esquina te saco, na reta ataco. Finda sua corrida, minha calçada da fama.

Cara de boi morto, cara de vaca chifruda. Sou vaqueiro, sou toureiro. Sou atacante brasileiro.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A pior parte de mim

Modéstia e banhas a parte, tenho apenas um defeito incorrigível. Uma parte de mim é torta aos meus olhos. Feia mesmo, um desastre. Coisa mais grave é quando eu comecei a achar isso uma coisa errada – mesmo nos outros. Costumo condenar os pés de amigos e desconhecidos. Eu mal consigo conviver com o meu.

De todos os desvios de caráter, canastrice ou má formação educativa que eu possa ter, nada se compara ao fado de ter um pé tão feio, tão incorrigível. Meu pé é minha janela para o inferno. Falo isso, pois mudo com o tempo. Um dia, quem sabe, possa eu me tornar uma pessoa mais doce, verdadeira. Um dia eu hei de ser meigo, mas meu pé não! Meu pé tende a ser cada vez mais feio. É a ciência natural dessas coisas; quando você ainda engatinha, seus pés são macios, um travesseirinho; é só começar a calçar chuteiras e os pés ficam deformados, as unhas crescem anamorficamente. Tudo vai para o vinagre. Você já viu um pé de velho? É a coisa mais feia do mundo. Não tem solução, o que a idade acrescenta em virtudes e experiência, ela mazela nos pés, orelhas e nariz.

Não consigo ver beneficio amoroso nenhum naqueles que por vício, tara, paixão ou doença, tem o prazer de beijar, lamber, acariciar os pés da pessoa amada. Isso é um ato nefasto, para não dizer jocoso. É um nojo só venerar a parte mais castigada do nosso corpo. O pé passa o dia dentro de meias e/ou sapatos; ele tem como função sustentar o nosso corpo, dar equilíbrio e suportar as topadas mais imbecis. O pé é, antes de tudo, um forte.

A carapuça pedóloga, sua derme e epiderme são imperfeitas. Acho que Deus encarregou seu estagiário de projetar os pés de Adão e Eva. Em suma, o pé é um rascunho da mão, cuja adaptação aos membros inferiores teve que chapar sua palma e encolher os dedos para que estes se parecessem mais com pequenos modelos de pães – dedão é um pão de queijo, os 3 do meio são pães franceses e o dedinho é um elogio a baguete.

Ó parte absurda de mim! Como és feio, como és perpétuo! Meu pé me assusta. O pé dos outros me dá medo. Um medo que se esconde em razão de ambientes e temperatura. O pé é o sinônimo da imperfeição da estirpe humana. O pé é o começo do fim, a raiz dos males terrenos.

domingo, 7 de outubro de 2007

Alguns filmes

Olá, estimado leitor assíduo desse tão irregular blog,

Agora você pode aumentar a carga de pedras que costumas atirar na minha pessoa. Fiz uma lista de filme essenciais. Pretensioso, eu? talvez.

Fiz um filtro, não coloquei nenhuma classificação por importância, pois os filmes são essenciais. Sugiro que alugues todos no mesmo fim de semana se dedique a vê-los o mais rápido possível.

Muitos ainda hão de entrar. Fiz essa lista rapidamente, assim com um pouco de desdém e um quê de vontade de impor um cânone cinematográfico para mim mesmo e para você, nobre leitor.

O que acha? Compartilhe, a lista fica aqui na lateral direita, só rolar.

Inté.

A ponto de bala

Lá estava ele, a ponto de bala. Não queria mais nada com ninguém, não devia nada. Não queria mais ouvir ou falar com ninguém. O que aconteceu? Estava cheio, cansado.

Um desassossego tomou seu corpo desde a manhã. O dia se perdeu e ele não sabia por quê. Passado, presente e futuro, ele não queria mais nada com nada. Não permaneceu imóvel, nem pensou em dar cabo da própria vida. Apenas estava cansado.

Por milhares de coisas que rondassem sua cabeça no momento, nada poderia alegrá-lo. Não queria novos amigos, novos amores, novas emoções. Não queria nada de novo, mas também rejeitava o velho. Culpara tudo o que passou e não acreditava que o que está por vir vai melhorar alguma coisa.

Não queria inovar mais uma vez, ao passo desses tempos em a renovação virou sinônimo de respiração. Sentiu sua cabeça cheia de coisas, mas vazia de vida. Como um aquário sem peixes.

Sem paciência. Não quis mais enxergar, não quis mais ler. Parou de aprender. Ele, uma pessoa tão radiante, de futuro marcado. Uma pessoa que teria tudo para seguir um caminho brilhante, parou. Não quis voltar, parou de andar para frente sem a preocupação de trilhar um rumo alternativo.

Ele não quis ver o que estava a sua frente, ficou lá apenas para esperar o que viria acontecer.
Quantas vezes quis que tudo acabasse subitamente! Como um homem barrado durante sua corrida, quis ser derrubado. Clamava pelo mundo que outrora o estimava para que este o erradicasse. Queria sumir. Pura e simplesmente desligar-se de tudo.

Estava a ponto de bala.
 
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