sexta-feira, 18 de abril de 2008

Som sem fim



Melhor música nos últimos 4 minutos: Sunday, Sonic Youth.

De todos os projetos, planos, imersões e fundamentalismos da minha mente, só fiz um: ouvir mais música. Aprender mais sobre ela, aprender com ela. Ouvi de amigos, inmigos, de rebarba na conversa dos outros. Garimpei e fui atrás.

Hoje me considero um adulto, um homem da música? Claro que não. Tudo questão de macromovimentos e microvontades. Seguinte: pegar música ficou mais fácil que pegar trânsito. Só meia dúzia de tecladas e pronto. Pimba! Você tem um som novinho em folha correndo no ouvido.

Modernidades a parte, o lance é fomentar o iPod com a última. Dar comidinha para o bichinho virtual que parece ter espaço infinito e fome do desconhecido. Vai, filho, vai ser indie na vida. Ou pelo menos ouça bem o que os Stones tem a dizer. Quem sabe um pouco de James Brown pode animar essa tarde de sol e sono. Maravilha! Tudo do caralho! Acaba-se com a ansiedade – o será esta cresce ainda mais?

It’s happening!

Meu querido, quer ouvir o top 10 da Estônia, manda bala e ouve. Mija no seu ouvido, vai lá. Acha que tá bonito balançar o fio branco no busum e ainda chegar a toa na mulherada Você ainda não ouviu isso? Como não? Já sou íntimo dessa banda. Os caras tem pegada. Eu também tenho, ta afim ? Pimba! Beija a aliança invisível e corre pro abraço.

Cretinice á parte, o fato é que se não encararmos o lance musical de um jeito diferente, vai ficar estranho. Penso assim: se o seu avô lutava para ouvir uma transmissão do Pixinguinha na radiola do vizinho ou no bar da esquina, ele valorizava muito o tal do samba e, todavia, só tinha isso ou aquilo para ouvir.

Seu pai e mãe se embalavam na american music, nas ondas bossa nova, tropicália, ou beatlemaniaca. Que seja! O vinil era tão cheiroso, tão redondo, tão enorme com pinturas, desenhos e alucinações na capa. O vinil dos lados A e B, do plastiquinho para proteger. O amor deve ter esse cheiro. E, vamos lá, não era fácil assim conservar a vitrola em casa; a bolachona era cara e as grandes gravadoras mandavam.

Agora vai muleque, compra um CD do Molejão pro pai. Na fala do Gugu você ouvia Taí o Disco de Platina do Raça Negra! Quanta alegria, CD vai a rodo. No plástico industrial do Made in Taiwan. No encarte mini cheio de fotos toscas e letras compactadas das canções. Mas ainda sim, tinha o lance físico. O apetrecho do disc man para os modenóides que tentavam ouvir um Radiohead no treme treme do ônibus. Nessa época já dava para um ou outro selo mais descolado lançar esta ou aquela banda – benditos! O que não veio de maravilhas dessa iniciativa?

As grandes quebraram o nariz nessa da distribuição.

Agora veja você, caro colega: ontem cheguei e usurpei mais de 30 anos de Dub jamaicano em segundos. Cadê o cheirinho de amor? Pra onde foi a radiola de padaria?

O lance do desapego físico da música impera. Menos é mais e 30 gigas de música não faz mal a ninguém. O problema é que tudo ficou mais gratuito. Explico, como o entra e sai de sons lubrificou, turbinou e multiplicou o seu repertório você não tem mais aquele envolvimento com cada uma das suas mais de 10 mil tracks da telinha do seu mp3.

Calma lá. Nada impede de você se apaixonar por tudo que nunca ouviste cantar na vida, mas o garimpo intenso pode fazer mal ao lavrador. Este pobre peão da vida pós-moderna acaba perdendo o pé quando a piscina se enche de novas informações. Tem músicas e músicas; coisas realmente boas e coisas bacanas de se ouvir. Mas também tem muito nheco-nheco que dói de tão ruim. Como tudo na vida: mulheres, futebol e cerveja. É só com envolvimento que se descobre o que é bom para tosse – e que se envolva com moderação.

Agora que ouvir música está para a facilidade assim como o Tico Tico para o Fubá, preparem-se para a lavadeira de coringas toscos e bregas, mas também para uma mão de Ases.

Como tudo que cresce assim do nada. A orientação ideal para não se deslumbrar nem ser precoce demais para acabar a corrida antes da largada é fundamental. Vai assim de bobeira, nas beiradas que você vai longe. Vai garoto, mãezinha quer um CD do Axé Blond.

- imagem de Remed, grafite e seres mirabolantes.
 
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