segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sobre escrever certo em linhas curtas.

Minhas primeiras lembranças sobre viagens de ônibus datam de uns 10 anos atrás. Não me refiro aos ônibus escolares e a corja de pirralhos que promovia fanfarras mil nas excursões tão indispensáveis na formação de qualquer garoto.

Lembro-me de pegar ônibus para ir ao inglês, para ir ao shopping ou para ir até a casa de um amigo que morava na frente de um ponto de ônibus. Para mim, só existiam duas linhas: uma que ia à Faria Lima e outra que ia até o fim do mundo – mas o máximo que eu atingia era a Rua da Consolação. As outras linhas eram selvagens demais e os nomes estampados na frente dos veículos continuam sendo lugares místicos inventados por um redator da prefeitura, ou da CET (quem decide que um bairro irá chamar Jardim Colombo? Essas teorias hão de merecer um texto próprio no futuro).

O fato é que, selvagem ou não, os coletivos sempre foram um lugar para a leitura. Quem gostava de ler não tinha medo de solavancos, curvas fechadas, excesso de passageiros e nem mesmo de pessoas obesas que insistem dividir o acento. Dentro do ônibus lembro de muitos leitores de jornal e também de muitos afanadores de caderno que, com um jeito maroto, pediam para ler tal seção do colega pagante pelo diário.

Os tempos foram passando e os leitores foram desaparecendo. Há várias explicações possíveis para tal acontecimento: os leitores enriqueceram e hoje só usam carros é a menos provável delas. Acredito que os leitores não são tão apegados ao jornal tradicional, talvez por falta de tempo para ler aquelas reportagens enormes sobre o corte da Selic, talvez pela falta de conhecimento de mercado que os jornais apresentam até hoje. A crise dos jornais está aí. Muitos foram comprados, outros começaram a vender fofocas e outros a criá-las.

Hoje em dia é muito mais comum ver o povo lendo os tablóides modernos que lhes são distribuídos gratuitamente nos principais pontos de embarque da malha dos transportes públicos de São Paulo: estações de metro e de trem, terminais de ônibus e corredores importantes. Como uma blitz, os jornais que não chegam a ter umas 20 páginas são depositados nas mãos de quem estiver por perto. O conteúdo deles não é, digamos, abrangente. É incrível, passa-se um apanhado de notícias em poucas e pequenas páginas com fotos grandes. De política a esportes, os tablóides impressionam na sua fama ascendente, na brevidade ao tratar de temas que merecem devem ser aprofundados para sua (total) compreensão e na falta de credibilidade. Não estou dizendo que os novos jornais de rua são populistas, apenas são rasos.

Ser raso pode até ser o que os editores dessas novas publicações tenham como intenção. Falar pouco, por falta de tempo, mas falar de tudo, para atender a demanda diária de informações é o que eles querem (?), depois quem se interessou por uma notícia em especial que procure saber mais sobre ela. A teoria é bacana, mas fico em dúvida: isso é bom ou ruim? Vale informar uma pessoa com um hiper-condensado de notícias? Vale ser profundo e continuar no formato usual de jornais grandes dobrados sob nossas axilas?

Em alguns meses convivendo com os mini-jornais pude perceber o quão disponíveis eles são para a publicidade em geral. Conclui-se que o que é cobrado por eles deve ser realmente mais barato que a sua concorrência de produto – o jornal tradicional -, afinal muitos anunciantes de pequeno e médio porte conseguem anúncios consideravelmente significantes se comparados ao tamanho da publicação, a verba desses anunciantes e ao publico atingido.

O que me atormenta é a volatilidade dessa verba publicitária em tempos de eleições, por exemplo. Sem outdoors e com as panfletagens a vista da lei, os políticos tendem a focar suas verbas (nem sempre curtas) em propaganda para mídias antes nunca exploradas, como os tablóides. Minhas manhãs serão piores quando eu tiver o desprazer de folhar um tablóide recheado de caras, números e cores primárias de partidos que me dão náusea. Ainda tenho imaginação para relacionar um editorial fraco com verbas partidárias fortes, o que não só sujaria o espaço dos anúncios como também poderia micar as curtas linhas de notícias que esses tablóides oferecem de graça a sociedade da pressa.

Voltando ao fato da cobertura, é parte da teoria da comunicação que nunca se pode retransmitir um fato em sua total veracidade. Isso pode ser um argumento em defesa de qualquer publisher, mas requer atenção. Muitos jornais tiveram que dar o braço a torcer e encurtaram a carga intelectual de suas noticias e virou mais “povão”, ou seja, dar ao povo o que ele quer sem exigir muito raciocínio. Ao fazer isso, um jornal está assinando sua carta de suicídio, sua credibilidade jamais voltará a ser a mesma.

Também, deve-se ser flexível ao aportar a tradição sem ser chato. Os jornais de formatos clássicos estão em derrocada. Temo pelo seu grande patrimônio: os editoriais. A diferença de um jornal grande é seu editorial; por trás de um jornal grande está uma fundação, um conjunto de pessoas que zela pelo seu conteúdo impresso e preza pelo consumidor que paga por aquilo que acha que lhe é relevante. Panfletar um jornal novo, sem muita credibilidade e com um formato que nunca fez por merecer esse adjetivo é uma mecânica boa para informar ou manipular.

Se o foda do jornal ser grande é que ninguém terá tempo para ler tudo, reduzir o tamanho das notícias é uma saída tola, um erro grave.

Respeitar a inteligência da população é mais valioso que educá-la a ler em dois parágrafos o que necessita de 4 colunas para ser explicado. Tentar concentrar todas as notícias de uma vez só, é o mesmo que matar mosca a tiro de espingarda.

domingo, 16 de setembro de 2007

Duelos sentimentais

A calmaria de uma tarde se espalhou por todo o corpo minutos após a refeição. Todo domingo era mais ou menos igual àquele, a reviravolta estava próxima e seria cada vez mais inevitável.
Deu-se o tempo de trinta minutos e os carboidratos absorvidos já haviam sido sintetizados e emanavam energia de sobra, os sentimentos transbordaram a injeção dada pelos carboidratos e foi dada a largada para dissipar o montante de energia.

Começou pela visão, a televisão já não estava muito agradável: o futebol xoxo demais, o programa do Gugu era um museu da burrice nacional, nos canais de filmes só reprises de segunda, desenhos infantis não são mais os mesmos há anos e o efeito da MTV não detém mais a atenção. Deu-se aí um gosto peculiar pelo observar do poente pela varanda – a primeira grande luta; o tato entra em cena. O friozinho do vento despertou uma vontade imensa de sair à rua para andar, correr, suar, lavar e descansar. Ao mesmo tempo a visão tentava confortar-se na breve apreciação e, aliada da lembrança, fez uma tradicional manobra de recusar a ação às vias do manto nostálgico.

Apegada ao poder da primeira imagem e não tão treinada a uma profunda interpretação e aprendizado, a visão foi iludida pela lembrança – uma espécie de Pandora desse jogo -, um filme resgatado do místico labirinto das memórias foi ativado e retratava uma tarde igual na qual andar de skate foi certamente a melhor pedida do dia. Vitória momentânea para o tato. Skate em baixo dos braços e muitas ladeiras pela frente. Não seria assim tão fácil, os outros sentimentos deveriam conceder.

A ala da audição estava submissa a visão e a sua livre escolha de canais de televisão e reivindicou um incentivador a aventura iminente – Ipod. Atendido, o problema foi a escolha; o conselho da audição é formado por inumeráveis membros e nunca conseguem firmar um pacto comum. Absolutamente populistas, primam pelo poder de afogar a oposição quando certo gênero ou artista cai no gosto popular, ou seja, entra em harmonia com o resto do corpo. O conselho começou a crescer geometricamente com a MTV, ganhou maturidade pelo Napster e atingiu uma espécie de “Democracia Corintiana” por meio da necessidade mercadológica Ipod 30 Gigas.

Ipod na mão esquerda, skate no braço direito e uma bomba começou a ecoar pelo quarto: o celular. A audição e o tato ficam desbaratinados, pois estavam em reunião particular sobre qual som proporcionaria mais adrenalina e vontade de andar de skate. Celular berrando no quarto, atender a chamada virou urgência; o Ipod voltou à escrivaninha e o skate deitou-se no chão.

A conversa foi breve e imprescindível para os contornos do duelo sentimental pela dispersão das energias. Outrem a quem o corpo sentia uma atração especial ligou, conversou e, antes de desligar, marcou um café de fim de tarde. O corpo tinha uma hora para estar no local. A lembrança pregou uma peça e com agentes amorosos que iam do tesão ao amor platônico tão logo convenceu o tato e a audição que andar de skate era bom, mas uns amassos eram melhor e ouvir Ska chegou a ser a melhor coisa para se ouvir até o momento em que a voz d’outro corpo repercutiu ruidosamente pelos amplificadores do celular. Por um momento, toda a tarde pareceu uma tolice e a ligação chegou a ser nomeada como divisora de águas do momentum.

A prudência e a virtude, dois espíritos que controlam o vai-vém sentimental, alertaram que o passeio da tarde seria impossível mediante ao tempo que o corpo teria de diversão, estimado em vinte minutos, os outros quarenta estariam divididos em transporte, banho e escolha de trajes para o encontro.

O tato desanimou na hora, visto que tal sentimento tem predileção por emoções mais duradouras e não cansa fácil. Ao ouvir isso, o conselho auditivo optou por uma música mais tranqüila – o conselho auditivo e o Ipod têm uma relação estreita e, uma vez com o aparelho por perto, escuta-lo é quase uma obrigação.

A visão voltou com tudo e sugeriu uma leitura ou a volta à caixa televisiva para acompanhar o futebol, que a essa altura, deveria estar mais empolgante. O paladar tentou desviar a atenção geral e sugeriu um sorvete, mas foi logo isolado da arena, pois fora ele quem determinou qual o café e, sem muita luta, poderá desfrutar de uns beijinhos durante a noite.

Nos fóruns políticos das vontades, a preguiça tomou o microfone e, com o paladar no bolso, anunciou meia hora de gamorra e contenção dos carboidratos das energias, para que fossem utilizados mais sabiamente durante a noite. O consenso era quase certo, mas a lembrança pregou uma peça em todos ao lembrar de um trabalho chato que deveria ser entregue segunda de manhã, a discussão voltou a se acalorar quando a moral e o caráter alertaram para o futuro profissional do corpo.

Essas discussões dos fóruns políticos das vontades quase nunca afetam diretamente os rumos que os sentidos tomam, diga-se que o corpo em questão é deverás mal formado e as sínteses do cérebro levaram a formação de uma nação imediatista e pouco preocupada com o futuro, com a saúde, em dormir cedo e a ter disciplina. Nesse corpo, a moral é partido nanico e o caráter, mesmo tendo altíssimo valor, é quase sempre atropelado pelas vontades do chamado baixio hiperativo dos sentimentos.

Politicagem de lado, a visão conseguiu uma revista Veja para folhar, a audição escutava Bob Dylan, o paladar bebia água confortável, o tato se confinou ao tique de perna e o oufato estava em coma devido ao nariz entupido. Os minutos correram da Veja à Veja São Paulo. Pausas para ler os negritos e os olhos das páginas, dez minutos se foram como uma trégua.

Corpos familiares em formação genética começaram a querer roubar a atenção do nosso corpo-nação e a guerra foi sendo acalmada pelo fato de as respostas, para saírem automáticas, deveriam contar com as alas mais extremistas dos sentimentos sedadas, para não dispersar.

Assim o tempo correu e a visão perdeu mais tempo tentando convencer o tato de que o jeans 38 era muito mais agradável mesmo com o corpo calçar 40 e a audição relutou mais perdeu o direito de ouvir músicas enquanto o corpo estava desnudo escolhendo seus panos, o fato de não ter bolsos na pele e que escolher uma música e a roupa são atividades que requerem uma atenção exclusiva esclarecem a expulsão dos fones brancos dos ouvidos. Além do mais, a atividade de ir ao encontro pelado em com o ipod em uma das mãos foi considerada por unanimidade como mundana e desprovida de senso lógico. A guerra tomava veias mais mansas, os carboidratos estavam perdendo seu poderio, a munição acabou.

Os sentidos se uniram para que o carro fosse guiado sem presságios e o encontro foi muito bom. O paladar exigiu dentes escovados e que chicletes fossem estrategicamente comprados antes do encontro com o outro corpo – orçamento aprovado pelo fórum das vontades.

domingo, 9 de setembro de 2007

A incrível história do cachorro que tinha dois donos e subitamente morreu de fome.

- peça em um ato.

ATO I

“Como você esqueceu de dar comida para ele ?”

“Era o seu dia!”

”Toda quinta eu tenho rodízio e chego atrasado. Quando eu cheguei, ele já tinha morrido.”

“E de manhã? Você estava daqui de manhã.”

“De manhã eu fui comprar comida para ele, porque você me disse que tinha comprado ontem.”

“É. Ontem você falou que a comida estava sem validade. Fui comprar, mas seu cartão não passava.”

“Se ele não passou, foi por sua culpa; encheu a cara com ele na terça.”

“Na terça ele só passou metade, já estava bixado antes.”

“Segunda você pagou o condomínio com ele, ai bixou.”

“Eu paguei o condomínio com o meu; você que resolveu pagar a gasolina com o seu.”

“Eu só paguei com o meu, porque o SEU carro tava sem. Você vive saindo e esvazia o tanque.”

“Eu só esvazio o tanque porque levei o cachorro no veterinário, é muito longe. Ele não precisava ir toda semana.”

“Ele só vai porque você sempre esquece de comprar comida. Aí eu tive que dar a sem validade para ele no almoço.”

“Você veio aqui no almoço?”

“O cartão tava estourado, tive que comer aqui.”

- pano

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Falsos sentimentos

Sobre uma certa (in)gratidão por estudar a mecânica do mundo mercadológico.

Comecei minha vida acadêmica pelo lado errado da ESPM, fui Adm e agora quero ser redator publicitário, há nisso um certo viés de escolha. Não sou tão radical a ponto de ter ido para a FFLCH ou cinema, como muitos o fizeram, escolhi (me restou) como abrigo “para alcançar o meu sonho profissional” o mesmo lugar que antes eu repudiara por ter feito a escolha errada na época certa.

Se por um lado a Administração e seus números me espantaram, por outro o estudo mercadológico não só me persegue, mas parece ser ainda pior na formação dos publicitários da escola superior. Convenhamos que estudei muito mais publicidade que adm, mas mesmo assim não posso deixar de constatar: o marketing é muito mais martelado nas nossas cabeças de comunicadores por ser quase o único escopo da faculdade de comunicação social para o mundo businees.

Em administração, o foco é em marketing (digo isso dentro da ESPM), mas há diversos outros ramos que são bastante visitados e muitos saem dessa faculdade para vários lugares e áreas do humanitas - agências de propaganda inclusive. Esse relato leva a máxima que todos nós costumamos ouvir de parentes mais velhos e conservadores: a faculdade que todos deveriam fazer um dia. Assim como direito, medicina e engenharia - a velha trinca tradicional -, administração é quase tão polivalente como estas e a bolha do mundo business é a coisa que mais (cresce) chama atenção - esta é a minha versão de que ouvimos e vemos diariamente dentro da primeira escola de propaganda do Brasil.

A sobra dentro do manto da comunicação social para com o mundo empresarial é estudar mercadologia; uma escolha plausível de acordo com o interesse de cada um. O pior é que a matéria e seus fundamentos são constantemente impostos como verdade absoluta para todo o resto da grade. O marketing não deve ser menosprezado, nem pretendo dizer que 'o sonho acabou' para os que acreditaram na livre criação de idéias ou na simples possibilidade de tirar o seu próprio sustento de outra área que não seja aquela doutrinada por Kottler. Prezo pela formação de conceito e liberdade de escolha de grade - coisas que incrivelmente não ocorrem num lugar que nasceu atrelado a vanguarda do pensamento paulista, o MASP de Pietro Bardi. Não acredito no fato de termos uma educação tão fundamentada na venda como arte do marketing e da propaganda como um artifício funcional, quase gratuito, mecânico e hermético.

O que mais me choca é o fato de que o marketing é esticado ao limite e possui táticas por ora geniais, apesar de ferinas e até contestadoras na ética. O objetivo das empresas (isso não é uma crítica ao capitalismo e suas conseqüências) é ampliado em função de aparatos que forçam o papel do criativo ao de cúmplice no abuso com o público em questão. Atualmente, a idéia de capturar o consumidor onde quer que ele possa estar começa a me dar medo, a luta pela atenção chega a parecer maior que a luta por estabelecimento de mensagem e marca, o que em teoria, os criativos devem fazer.

Há sim, campanhas e empresas que acreditam numa comunicação não somente integrada, mas harmônica com seus consumidores. Digo harmônica no sentido de, mesmo retórica e repleta de convites, permite que o consumidor não seja taxado de trouxa ou não seja obrigado a ouvir, de sopetão, centenas de palavras de ofertas em 30 segundos, pior, com imagens chocantes que mais me lembram um videoclipe que um comercial – no caso, um videoclipe de puro mal gosto.

Acredito no diálogo do mercado com a massa populacional, não em eufemismos baratos para o estabelecimento de caráter “exclusivo” de uma marca com o seu público, vivemos em uma época industrial por princípio. Ouso dizer que Wahrol já fazia esse tipo de ironia quando imprima e pintava diversas latas de sopa, é a arte dialogando com o consumo em massa (não vou entrar nesse assunto).

Enfim, temo que o marketing faça da propaganda uma coisa até prazerosa, mas incrivelmente maniqueísta e sem formação de conteúdo cultural para a sociedade. Os comerciais do período 1980-90 são considerados os mais brilhantes da publicidade brasileira e não é a toa, carregavam cultura popular e não berravam pela atenção do telespectador.

Ok, hoje temos internet e o público é dispersivo, mas outras soluções são pensadas e pouco implementadas por falta de ousadia e desinteresse. Muitas vezes, em sala de aula, não sei se agradeço ou condeno de vez o fato de que eu saiba como o marketing funciona e quão banal e ofuscado ele pode ser.

Epopéia familiar

Abaixo a epopéia, para quem tem pelo menos 15 min para se apaixonar por esta saga.


Sou filho de Alberto Magno Lazarte Davini

Não estranhem, ele descende do ilustre Carlos Magno, o grande soberano das terras médias na idade das trevas. Há uma lenda no sul da Galícia, que Carlos era um varão, desde os 13 anos deixava uma filha em cada cidade que passava. Não demorou muito para se tornar imperador e consequentemente o primeiro ditador nepotista do Mundo, todas suas filhas cresceram sem pai e casaram logo e, assim, Carlos Magno teve que ceder parte das terras e do poder conquistado para cada um de seus genros. Isso durou até Carlos atingir os 30 anos quando sua face sombria tomou as rédeas de sua consciência e ele mandou matar todos os genros, bem, quase todos.

O único loquaz sobrevivente foi o catalão Alfredo Malazarte, avô de Pedro Malazarte - conhecido da literatura infanto-juvenil pelas suas peripécias e incrível poder de fuga. Pedro também herdou as peripécias procriadoras de seu avô merovíngio e proliferou como a peste negra pela Europa, sempre vivaz, sempre malaco.

Até a chegada do governo franquista, os Malazarte já estavam tão dispersos pelo mundo como os judeus, as baratas e as barraquetas de hot dog, foi aí que dona Dolores, minha tetra avó analfabeta e gaga nomeou apenas Lazarte ao escrivão do cartório. Seu filho, o pequeno Abelardo, seria um combatente tenaz da ditadura espanhola, amigo de Picasso, Amigo de Fredereich, amigo de muita gente, por isso fugiu às 6h da manhã de um domingo para a Argentina, a terra platina que tanto prometia aos perseguidos pelo impetuoso ditador.

Lá chegando cambiou seu nome para Luis e casou-se com Alice, a primeira mulher que lhe ofereceu um prato de comida sem chorizzo e alfajor de sobremesa. Cansados de ouvirem tango, o promissor casal resolveu fugir para o Brasil após uma carta-cojnvite de Friedereich e Havelanche, uma dupla assaz boleira - esporte que ainda engatinhava na Terra de Santa Cruz. Chegando as nossas terras fundaram o Esporte Clube Bosque Paulista, no bairro do Bom Retiro, que virou Clube dos Navegantes da Vila Zatti, e mais adiante Associação Esportiva Gondoleiros do Brás e desaguou no extinto Pequeninos do Taboão da Serra.

Não bastou o insucesso nos negócios e o primeiro filho do casal, Davino, morreu de um ataque fulminante assuntando a família, pois acontecera no mesmo mês da derrocada financeira do clã, da desilusão brasileira frente a final da copa contra o Uruguai, uma noite após Luiz Lazarte (o patriarca) quebrar três dedos do pé esquerdo topando na cama, ao sair do chuveiro. Para sair da zica, batizaram o próximo filho de Alberto Magno Lazarte Davini, em homenagem ao herdeiro póstumo. Esse é o lado paterno da minha epopéia familiar.

Se você ainda está acompanhando essa novela - que poderia ser também a versão brasileira d'Os Lusíadas - não pode deixar de acompanhar os momentos finais da minha história: o Lado Santoliquido.

Prejudicados pela fome e pelo frio que dominava Roma, os Santoliquidi não iam ao coliseu comer pão, pois tinham medo de lugares com multidões. A história relata que um tal de Manolus Santolquidi como o fundador da estirpe que não comia queijo, não usava as famosas sandálias Sicilianas e nem gostava de gladiadores. Desertores, segundo classificação de Pompéu (sec. IV A.C.), os Santoliquidi foram a Constantinopla vender uvas passa para os turcos ligadões no kebab. O negocio fracassou em duas semanas e Manolus passou a viver de cozinheiro em uma cantina.

Com a divisão em bizantinos e romanos, Manolus II, o pizzaiolo da mesma cantina onde seu pai fez história ao servir uma pizza de aliche sem queijo e com azeitonas pretas (uma heresia na época), foi convocado para unir-se a Gengis Kahn no domínio de Sparta (a terra dos 300). Aceito o convite, Manolus II torceu o joelho ao se deparar com Gerald Buttler e foi poupado por fazer uma bruschetta que deu o que falar ali naquela ilha varonil.

Agora na Grécia, os Santolquidi conheceram uma figura importantíssima para a formação do ente familiar que agora escreve estas linhas - no caso eu; no caso da persona, Helena, a musa de Manoel Carlos, o meu muso - daí a elipse. A partir do dia em que Manolus VIII conheceu Helena em uma Balada em Creta, ele se refugiou na escrita romântica e mudou-se para a região da Bratskvia, atual Finlândia, então sob domínio dos esquimós e yets. Sofrerá muito pelo fato de Helena ter sido raptada, seu amor fora apenas platônico.

Na Finlândia, minha parte errante da família perdurou até a invasão austro-húngaro, em medos do século XIX, quando Bismarck resolveu aniquilar todos os afáveis finlandeses por que eles não sabiam fazer sorvete de pistaches, seu pecado era a gula e o agente os pistaches. Desta forma Manolus XXX voltou para a Itália, para a região da Calábria por ouvir falar que lá as pessoas eram felizes e alegres, todos tinham direito a 10 m de extensão de praia e mais 2 acres de terras férteis e esposas fartas.

Daí para a fábrica de sapatos mocassin foi um pulo. As gerações de Manolus foram extintas quando o 34º filho não procriou nenhum homem, pois se casara com uma italiana do norte, a eterna praga dos sulistas, uma zica. Assim sugiram os nomes galantes como Giuseppe e Berdizzo, irmãos que morreram juntos em um rodeio, em 1900, e serviram de inspiração para os folhetins brasileiros. Com a guerra, Vicente Santoliquidi, serviu a Mussolini após ter sido recusado por Hitler, Churchill e Zskivarentrons (ditador da Finlândia recém independente do império Austro-Húngaro, após a queda de Bismarck). Vicente tinha uma mão menor do que a outra; todos nós (santoliquidis) também a temos - herança da fábrica de sapatos mocassins. Na época, ter uma mão menor do que a outra impossibilitava o manuseio de fuzis cabendo ao jovem Vicente cuidar do telefone de front. Após receber um trote, foi baleado na cabeça e por pouco não morreu.

Meu avô foi removido dos campos de batalha e mandado para Buenos Aires. No caminho, o navio fez uma pausa no porto de Santos para abastecer e Vicente, muito apertado, não prestou atenção nas informações do comandante que estabelecia 12 horas de parada. Vicente nunca mais voltaria ao navio e se estabeleceu em São Paulo por ouvir falar que ainda havia ouro depois da serra. Conheceu Chateubriant, pois era seu engraxate e apaixounou-se pela sua confeiteira, Carmelita. Da paixão ao casamento foram apenas 2 dias e entre seus filhos estava Silvana Santoliquido, minha mãe.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Entra o Santo Líquido

O blog começou e as postagens irão crescer a mesma razão das pombas lá da praça no verão ou dos ratos aqui do bueiro.

O Santo Líquido é parente próximo de outros materiais sacros, como o Santo Graal, a Santa Ceia, o Santa Aldeia e o São Cristóvão - time da segundona do campeonato carioca.

Obrigado a todos e boa viagem.
 
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