quinta-feira, 2 de outubro de 2008
O fim do mundo e outras histórias
Tal pai, tal filho. Sentados no sofá, pleno domingo. O mundo treme lá fora.
- Pai, o mundo vai acabar?
- Não filho, porque ele acabaria?
- O Romerito disse que o pai dele disse que o mundo vai acabar se não fizerem nada.
- Mas o mundo vai acabar um dia. Não hoje, nem amanhã. Um dia.
- Segundo o pai do Romerito, o mundo quase acabou nessa semana. Ele disse que a bolsa quebrou e estão precisando de 700 bilhões de dólares. 700 bilhões não muito dinheiro?
- Onde você anda ouvindo essas coisas? Sim, 700 bilhões é muito dinheiro, mas alguém deve e vai ajudar.
- O Silvio Santos tem 700 bilhões não tem?
- Não filho, o Silvio Santos não tem tudo isso.
- Então o mundo vai acabar! - começa a chorar. E o Bill Gates, ele tem?
- O Bill Gates também não tem, mas o governo tem e vai ajudar.
- Mas por que o governo vai ajudar?
- Ah, filho, não sei. O governo é tipo o pai da bolsa. Pensa que a bolsa quebrou o vaso da sala.
- Mas o vaso não custa 700 bilhões.
- Eu sei, o vaso é mais barato. Mas imagina que um vaso quebrado já é motivo suficiente para a mamãe querer matar você, não é?
- É - engole o choro.
- Então, o mundo acaba se a mamãe ficar brava, certo?
- Acaba.
- Um vaso quebrado é um problema para a bolsa, então ela precisa do pai dela para comprar um outro vaso antes que a mãe chegue em casa e acabe com o mundo, não está certo?
- É mesmo.
- Mas o pai da bolsa é um cara muito legal. Ele sempre deixou a bolsa fazer o que ela sempre quis. Sabe, ela podia jogar bola na sala, ver TV até tarde, roubar o lanchinho dos colegas. Tudo isso numa boa.
- Nossa, que pai legal. Você deixa eu dormir na casa do Romerito hoje?
- Não filho, eu não sou tão legal quanto o pai da bolsa. Mas veja só, o pai da bolsa quase não ligava para o que ela fazia; ela tirava boas notas e era a primeira da sala. Ele não tinha do que reclamar.
- Mas, então, ela pode quebrar quantos vasos ela quiser.
- Talvez. Mas não. Se a bolsa quebrar o vaso, o mundo acaba. O mundo – faz um movimento circular com os braços e esboça um carão.
- Ai, que chato, não quero ser a bolsa.
- Eu também não quero ser o pai dela. 700 bilhões é muito dinheiro.
- Mas pelo menos ela pode fazer o que quiser.
- To sentindo que ela vai ouvir bastante. Vai demorar para ela brincar de casinha de novo.
fim
- Imagem do inescrupuloso Mark Ryden. Uma infância do avesso.
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Um comentário:
...impressionante tua forma de escrita expressiva.tenho aompanhado teus lançamentos e lamento quando a demora se faz sentir...SANTOLIQUIDO.....produza mais!
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