Havia, há muito tempo, um gato que não tinha amigos. Também não tinha inimigos, nem pulgas. Não recebia carinho, nem era xingado. Nenhum cão jamais latiu para ele; o gato nunca correu atrás de um rato, tampouco afugentou uma pomba.
Nunca tomou leite, nem se lambeu. Nunca morou no telhado, nem comeu todas as gatinhas. Bigode – ao menos – ele tinha.
Tinha também pelos negros e olhos esquivos e verdes. Suas garras eram finas e compridas. Não aprendeu a miar, não sabe eriçar os pelos e não faz sua higiene numa caixa de areia.
Certa feita o gato estava rodando seu habitat, uma casa – vazia. Uma casa sem mobília e só paredes, nem portas a casa tinha. Da pintura pouco sobrara, o telhado estava rachado e as infiltrações encobriam o cheiro de capim do jardim. Muito mofo e vazio. A escada estava rompida no meio do caminho, o mofo a fez desmoronar; bastou o gato atingir o terceiro e último degrau para receber uma bola de ferro da demolidora – enfim ele ganhou alguma coisa.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
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3 comentários:
Senti pena do gatinho,
=(
Coitado do gato, realmente..
Mas acho que foi melhor como foi, não?
Bom texto.
Terror existencial é pouco.
Pelo menos alguma coisa aconteceu né.
Ficar sem leite é terrível.
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