quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Além do bem e do mal

Noutro dia lembrei de quando as pessoas mais velhas me fitavam do alto e diziam Aê galerinha do mal. Tapinha nas gostas e afagos na cuca seguiam essas palavras quase que automaticamente. Eu sorria e falava para mim mesmo Eu não sou “do mal”. Nunca me permitia ser ouvido e pensava comigo mesmo, O que é ser do mal?

Aos 10 anos, ser do mal era combater os Cavaleiros do Zodíaco ou ser o chefão final do jogo em que você perde 4 horas queimando seus dedos para alcançar e, em 5 minutos e muitas vidas e continues depois, te esmiralha e ri disso com a tarja Game Over piscando. Ser do mal era isso. Era ser da turma mais velha que tomava a quadra de jogar bola nos intervalos com o discurso de que Somos mais fortes e mais velhos (nessa ordem), vão jogar em outro lugar!

Fui crescendo com alguns arquétipos sobre o que era mau e o que era bom. Cuspir no chão pode ser emocionante quando, aos 14, se aprende a extrair o próprio catarro dos pulmões, mas é mal; roubar a quadra do futebol da turma de 10 anos tem gosto de vingança, mas é mal; matar aula é mal; roubar balas nas docerias era emocionante, contudo mal, muito mal (depois quem vai pagar por isso?).

Como você é mal. Que maldade. Quem já ouviu isso sempre titubeou entre um sorriso sarcástico indisfarçável e o remorso imediato por expor traços delinqüentes em público. O sentimento de culpa pode variar de acordo com o delito, por exemplo, se você atropela um sapo, de propósito, uma vez recriminado, a culpa pode de deixar até sem graça. No caso de atropelar uma senhora de idade a fim de ganhar dinheiro ou pontos para a próxima fase, desperta o mais maléfico dos semblantes em quem estiver segurando o joystick. Ser mal pode ser bom, ou mau.

Mas outro dia mesmo, ouvi Como vai a Galerinha do Mal? O que responder? Agora me considero um homem regulado, pleno nas minhas escolhas, responsável pelas minhas atitudes. Pensei em algo como: Eu nunca fui "do mal", tio, eu não fumo crack. Talvez seja esse o tipo de resposta que eu sempre quis ter dado, mas nunca tive coragem, porque não sou da turma do mal. Os maus têm como índole a ousadia e a coragem, e é nessas horas que tais coisas aparecem mais nitidamente, na hora de responder com sarcasmo e sem respeito a um chiste – principalmente se for provocado por alguém mais velho, que inspire ordem e superioridade moral.

Os melhores maus são aqueles que detonam com a velha guarda dos conceitos arcaicos. Não por acaso caem nas graças do povo e, com o tempo, invariavelmente, podem ser absorvidos pela sociedade, não como algo venal, mas como uma questão de atitude selvagem. Assim nos atraímos por rockstars, grafiteiros, pilotos de f1 malacos, e apresentadores polêmicos; no geral, artistas que vivem nos excessos. Normalmente quem desvia os costumes (para o lado mal) ganha com isso, ou morre de overdose.

Essa parcela de pessoas, porém, é muito pequena. A ordem do mundo pode ser mantida pelas pessoas que são, e se conformam em ser, do bem. Aqueles que primam pelos bons costumes mandam no mundo, nas coisas, nas leis; enfim, ditam as regras. Eles podem até ter o seu lado mal, mas são muito mais benevolentes que malévolos. Digo isso porque imagino a mente do Nelson, dos Simpsons, um cara mau por natureza e caricatunização, em pessoas como o Kim Jong-Il, ditador (dono) da Coréia do Note ligando para o Mahmoud Ahmadijad presidente (proprietário) do Irã. Em uma ligação, eles podem acabar com o mundo, ou seja, são maus, mas poderiam ser ainda piores, ao passo de ainda manterem uma chama do bem nas suas devidas proporções.

Eu não sou da turma do bem, mas ser da turma do mal é muito ser do PCC, ser da al Qaeda ou ser usuário de drogas (?). Fumar crack é mal, atirar em policiais é muito mal, detonar dois arranha céus é quase o cúmulo da maldade. Ser mal deve vir com o indivíduo. Ser mal é uma questão de excesso de bondade a qual muitos são marginalizados?

Entre o bem e o mal, saio isento. Impossível não ter maldade, impraticável é ser bom o tempo inteiro. Só acho errado subjugar alguém, por mais que tente soar interessante, e fale ao léu: Como estão as coisas com a turma do mal? Quanta malandragem, quanta sagacidade. Somos maus, somos malandros, somos marginais. Eu não. Perdeu, playboy.

PS: E as diferenças entre o mal e o mau? Acertei na gramática? Essas ficam para a próxima.

2 comentários:

Fernando Spuri disse...

Dei uma procurada no dicionário, sabe como é.

Do mal você é inconveniente.
Do mau você é irrequieto; travesso; de má qualidade; mal feito; sem talento ou arte; difícil; nocivo.

Mas definitivamente você é da turma do Mao. O Tse, no caso.

José [Zeh] Eduardo disse...

Olha quem tá falando que você é da turma do Mao..

Mas é, Rê.. O texto pode tomar outro sentido..
Só que eu entendi tudo que você queria dizer! É isso que importa!
Eu sou do mau e muito do bem na terrinha..
Acho que deveria ser popstar.

 
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